2014/09/01

Lonely people 01123

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- É que - engasgou-se com palavras que pretendia soltar, pensou um pouco, encarou o rapaz, percebeu que ele lhe observava curiosa e fixamente, voltou a encarar o chão do quarto 35 e continuou - sonhei que vim te visitar e perguntei se estava saindo com alguém.

- O que eu respondi?
- Você disse “estou bem, não quero mais” e parecia que queria falar mais, mas você sorriu e eu acordei.
- Desculpa, menti pra você… - ele não era de acreditar no misticismo e nos significados dos sonhos, mas havia algo que não conseguia entender na razão dela para viajar. Os olhares que a moça o lançara desde que se encontraram, foram, sem que ele notasse, tomando pouco a pouco qualquer espaço vazio nele que ainda não estivesse repleto com a escuridão reconfortante que saía dos olhos cor de mel da moça - ou verdes, dependendo da luz. O que o rapaz dissera no sonho dela, gerou-lhe uma atordoante epifania, que o obrigou a respirar lentamente antes de prosseguir… Escondeu o rosto entre as mãos, jogou as costas na cama e confessou - fiquei com outras mulheres, mas foi só para…
Antes que o envergonhado dissesse o que ela não queria ouvir, interrompeu, segurando as mãos do rapaz:
- Sh, não quero saber - repousou dois dedos sobre os lábios dele - Eu sei da tua bagunça aí dentro - alfinetando com o indicador a cabeça do rapaz.

Seguiram rumo ao Oeste, passando por ruas repletas de pixações em casas antigas. Numa destas, viram a inscrição “the night is dark / and full of you”, óbvia referência a uma série que os dois ali e mais meio mundo assistiam. Por impulso ou magia do Senhor da Luz, as mãos, que andavam distantes, acolheram-se e os dois, como da primeira vez que entrelaçaram dedos, comentaram sobre as temperaturas tão opostas dos dois corpos, por mais que estivessem na mesma cidade. Seguiram caminhando pela R. I. L. para que ela conhecesse o bar favorito do rapaz na nova cidade, que, aliás, era o único que conhecia, graças a uma indicação de um colega de trabalho.
- Não gosto de andar à noite por aqui, sempre acho que alguma coisa ruim vai acontecer.
- Tivesse me falado antes, que a gente não saía do quarto.

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